[Resenha] - The Great Gatsby (ou "O Grande Gatsby", old sport) - F. Scott Fitzgerald

Título: The Great Gatsby (O Grande Gatsby)
Autor: F. Scott Fitzgerald
Editora: Wordsworth Editions
ISBN: 9781853260414
Nº Páginas: 122



Sinopse
Nos tempos de Jay Gatsby, o jazz é a música do momento, a riqueza parece estar em toda parte, o gim é a bebida nacional (apesar da lei seca) e o sexo se torna uma obsessão americana. O protagonista deste romance é um generoso e misterioso anfitrião que abre a sua luxuosa mansão às festas mais extravagantes. O livro é narrado pelo aristocrata falido Nick Carraway, que vai para Nova York trabalhar como corretor de títulos. Passa a conviver com a prima, Daisy, por quem Gatsby é apaixonado, o marido dela, Tom Buchanan, e a golfista Jordan Baker, todos integrantes da aristocracia tradicional. Na raiz do drama, como nos outros livros de Fitzgerald, está o dinheiro. Mas o romantismo obsessivo de Gatsby com relação a Daisy se contrapõe ao materialismo do sonho americano, traduzido exclusivamente em riqueza. Aclamado pelos críticos desde a publicação, em 1925, O grande Gatsby é a obra-prima de Scott Fitzgerald, ícone da “geração perdida” e dos expatriados que foram para a Europa nos anos 1920.
Sinopse retirada da versão publicada pela Penguin.


The Great Gatsby, escrito por F. Scott Fitzgerald, foi uma leitura que tomou um rumo deveras estranho em minha vida. Eu já tinha ouvido falar em Fitzgerald há alguns anos, mas nunca tive curiosidade para procurar mais a respeito dos trabalhos dele. O processo começou em 2013, quando uma amiga, muito fã da cantora Lana Del Rey, fez questão de me apresentar uma música da artista (da qual hoje sou fã, pois é). Não demorei muito para descobrir que música em questão, intitulada Young and Beautiful, fazia parte da trilha sonora do filme produzido com base na obra literária. Foi nesse instante que meu interesse aflorou, mas, ainda assim, lutei contra a ideia de assistir ao filme ou ler o livro. Afinal, aquele período da história do mundo não me interessava. Em 2015, assistindo ao filme “Meia-Noite em Paris”, a figura de Fitzgerald, representado pelo ator Tom Hiddleston, me cativou. Coincidentemente, algumas semanas depois, uma moça, em um grupo do facebook de vendas e trocas de livros, estava vendendo a versão em inglês de The Great Gatsby por um valor baixíssimo. Aí estava a minha chance.

Este é um livro que, ao meu ver, requer muita atenção e, ouso dizer, até um certo carinho. Digo isso porque tive duas experiências interessantes com o livro. Na primeira leitura, achei tudo muito chato e até um pouco complicado de se entender; atitude que rendeu cerca de três semanas para que eu terminasse de lê-lo. Ao finalizá-lo, decidi que assistiria ao filme para ver se minha opinião mudava. E eu me surpreendi. Fiquei tão abismado com determinadas partes da adaptação que me pegava constantemente pensando em coisas como “não lembro disso no livro” ou “não havia prestado atenção nesse detalhe”. Maravilhado com a produção, decidi dar uma segunda chance à obra de Fitzgerald – dessa vez com muito mais apreço e cuidado. Em menos de 24h eu terminei minha leitura, muito mais atenciosa e agradável, diga-se de passagem. E, enfim, deixando minha ignorância de lado, pude chegar a uma conclusão:

Que livro.


A trama é narrada do ponto de vista do jovem Nick Carraway, que, com intuitos profissionais, se muda para uma casa em Long Island. Ao lado de sua humilde residência, há erguida uma mansão gigantesca e imponente. Nessa residência, Nick descobre que vive um indivíduo de nome Jay Gatsby, famoso por ser anfitrião de festas desproporcionais, recebendo centenas e mais centenas de pessoas, de diversos tipos e lugares. Entretanto, os primeiros pontos curiosos do livro surgem: praticamente ninguém conhece pessoalmente o dono da mansão, ninguém sabe como ele conseguiu aquela fortuna e, principalmente, por que diabos todas aquelas festas?

Nesse início do livro já notamos a presença de um cunho histórico que envolve a trama. Trata-se da época pós primeira guerra mundial, quando os Estados Unidos da América torna-se um país próspero e que cresce economicamente (1929 não era esperado). É, ainda, um período em que houve uma proibição da produção de bebidas alcoólicas, o que resultou em corrupção, assunto também considerado no livro. Fitzgerald traz à obra sua visão crítica ao respeito do materialismo exacerbado que parece levar a humanidade a uma certa decadência, uma vez que a necessidade de festas e gastos em coisas fúteis parecem tornar-se uma constante na população. Essa percepção fica um tanto evidente através da figura do próprio Nick, que não necessariamente despreza tais atitudes (na verdade, ele até parece gostar das pessoas da alta classe), mas tece alguns comentários a respeito onde eu pude sentir certa crítica.



Conforme a leitura se desenvolve, somos apresentados a outros personagens, tais como Daisy Buchanan, prima de Nick Carraway, casada com o riquíssimo e egocêntrico Tom Buchanan. Na mesma cena em que os dois primos se encontram, somos apresentados também à figura magistral de Jordan Baker, uma esportista de grande beleza e por quem Nick se apaixona. Um ponto que deve ser levado em consideração é que não existem personagens descartáveis nessa obra. Cada figura apresentada é fundamental para o desenrolar da leitura; todos importantes em seus pequenos gestos, atitudes, falas e detalhes. Ao fluir das páginas, vamos descobrindo os gostos e hábitos dessas personalidades, que irão influenciar para o desenvolvimento de tudo. E, por fim, conhecemos o personagem mais importante de todo o livro.

Jay Gatsby é introduzido ao leitor de uma maneira um tanto cômica e até surpreendente. Após Nick ser convidado a participar de uma das festividades na mansão de Gatsby (atente-se ao fato de que isso é um acontecimento raro, uma vez que as pessoas simplesmente comparecem às festas), é uma questão de tempo até que a ilustre imagem de Jay surja para Nick, que, ao finalmente descobrir quem ele é, logo percebe que se trata de um indivíduo no mínimo intrigante.



É questão de tempo até que a relação entre ambos se desenvolva. Nota-se uma amizade genuína se formando entre Gatsby e Carraway, sem qualquer interesse material ou falsidade por parte dos dois. É um relacionamento sincero e, até certo ponto, invejável, se pararmos para analisar a atual condição humana. A partir da perspectiva de Nick, vamos descobrindo pouco a pouco sobre os desejos e segredos mais ocultos de Gatsby. Passamos a ver a realidade; saber quem realmente Jay Gatsby é, ao invés de nos basearmos apenas em comentários e suposições. Crescemos com o personagem e nossas dúvidas são sanadas gradativamente, em uma maneira simples e direta, porém cativante.

Gatsby é um personagem extremamente carismático e não há como não sentir pena dele ao finalmente entender suas verdadeiras intenções. Nota-se na figura de Jay um distanciamento das demais personalidades (talvez com exceção de Nick, já que os dois se parecem em certos aspectos) e também dono de uma grande tristeza, mesmo tendo tudo o que um homem poderia querer. Além disso, vemos em Gatsby um indivíduo humilde, apesar de toda sua fortuna, e também sonhador. Um indivíduo que fez escolhas durante a sua vida de modo a alcançar seus maiores objetivos, e nunca parando de almejar o inalcançável. Se tais escolhas foram sensatas ou não, se foram corretas ou ignorantes, cabe ao leitor decidir. Mas uma coisa é certa: não há como não sentir o que Gatsby sente; não há como não compreendê-lo. Mais importante, é de se intrigar ao notar que todo o reinado de Gatsby se construiu devido ao seu amor por uma mulher: Daisy Buchanan.

Sorriu compreensivamente – muito mais do que compreensivamente. Era um desses sorrisos raros que têm em si algo de segurança eterna, um desses sorrisos com que a gente talvez depare quatro ou cinco vezes na vida. Um sorriso que, por um momento, encarava – ou parecia encarar – todo o mundo eterno, e que depois se concentrava na gentecom irresistível expressão de parcialidade a nosso favor. Um sorriso que compreendia a gente até o ponto em que a gente queria ser compreendido, que acreditava na gente como a gente gostaria de acreditar, assegurando-nos que tinha da gente exatamente a impressão que a gente, na melhor das hipóteses, esperava causar.


Ao fim do livro, temos uma percepção amarga do meio em que Carraway se encontra. Todos os acontecimentos nos levam a sentir o que ele sente e eventualmente paramos para refletir sobre nossa posição como seres humanos. O quanto podemos ser mesquinhos e ignorantes uns com os outros, além da falta de consideração que temos por outras pessoas, ainda que elas façam o impossível para nos agradar. Quando finalizei a minha segunda leitura do livro, ao fechá-lo, meus pensamentos se resumiram a um simples, porém extenso e significativo “uau”. Acho que Fitzgerald, além de levantar determinadas questões políticas e sobre o materialismo, também procura trazer-nos uma visão mais humana de como tratamos aos outros. O final de The Great Gatsby me trouxe incômodo, tanto pela reflexão, quanto pela mudança repentina e chocante que passamos a ter em relação a determinados personagens, que podem ser vistos como desprezíveis, se já não o eram antes.

Versão da editora Leya
Li o livro em inglês. Achei o vocabulário de um nível de dificuldade razoável, uma vez que há bastante descrição (mas nada muito extenso). Mas nada que atrapalhe demais a leitura, basta ter paciência e certo interesse. Mas, de acordo com minha experiência, devemos ler esse livro com toda a atenção possível, nos despindo de qualquer pré-julgamento, ou então pode ocorrer a você aquilo que me aconteceu. A capa da edição que li não havia nada demais, além de uma arte simples mas que resume um pouco a maior característica do livro. Entretanto, há uma edição publicada pela editora Leya que é muito bonita e que pretendo adquirir futuramente.


Por fim, um breve paralelo com o filme: Achei a adaptação bem fiel ao livro, principalmente por retirarem alguns diálogos deste e os deixarem intactos. As poucas diferenças não contribuem de maneira significativa. Talvez uma delas deturpe um pouco a sua perspectiva a respeito de um dos personagens, mas nada demais. No filme, Nick começa contando a sua experiência de vida com Gatsby a um médico, demonstrando desde o início o seu rancor por determinadas coisas e pessoas (relacione ao que eu disse mais acima), mas achei essa uma sacada bem legal. A única coisa que não gostei muito foi a alteração de um acontecimento que há no final do livro, mas, novamente, nada de influente. A trilha sonora também não foi das melhores, não necessariamente por ser ruim, mas por não condizer com o período em que a história se passa, uma vez que utilizaram muitas músicas de pegada mais recente para representar os roaring twenties. Acho que a única que realmente gostei e que se encaixa perfeitamente é a música da Lana, citada mais acima. De resto, é um ótimo filme. E, para terminar, deixo um trecho de Young and Beautiful que, ao meu ver, sintetiza minhas impressões do livro e o desejo principal de Gatsby.


Will you still love me
When I'm no longer young and beautiful?
Will you still love me
When I got nothing but my aching soul?

Nenhum comentário:

Postar um comentário